Ordo Salutis

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12:38

A Unidade do Corpo

Postado por Harone Maestri Mattos

Efésios 2.11-22

Há muito no livro de Efésios sobre a Igreja. Nesta mensagem vamos considerar apenas o capítulo 2, dos versos 11 a 22. O Novo Testamento apresenta certas metáforas que caracterizam e descrevem a Igreja de Cristo. Por exemplo, a Igreja é comparada a uma casa. Cristo é a videira e os ramos constituem a Igreja. A Igreja é também chamada “Reino”. E é descrita, de modo peculiar, como sendo um corpo. Esta figura é apresentada na carta aos Efésios. Somos o Corpo de Cristo; com isto, Deus está querendo indicar que somos um organismo que cresce, funciona, reage, está ativo e em movimento, respondendo ao comando de Sua cabeça que é Cristo. Não somos, fundamentalmente, uma organização, mas um organismo: somos um Corpo. Cada um de nós tem parte ativa neste Corpo e todos nós dependemos uns dos outros. O fato de sermos um Corpo constitui a nossa identidade própria. Isto não é encontrado no Velho Testamento; é um conceito novo que pertence à Igreja. E, no conceito do Corpo, encontra-se um tema que parece prevalecer sobre todas as outras coisas: a unidade deste Corpo.

A idéia de unidade parece ser a chave para se entender o Corpo de Cristo. Somos um corpo com uma cabeça e temos, basicamente, uma função: ministrarmos uns aos outros, para que cresçamos e para que o mundo veja o nosso testemunho. Temos os mesmos alvos, como afirmou o apóstolo Paulo no capítulo 4 de Efésios: "um Corpo, um espírito, um Senhor, uma esperança, uma fé, um batismo, um Deus e Pai de todos." Nós somos “um” e esta é a nossa identidade peculiar. Esta unidade básica do Corpo é ensinada nos versos 11 a 22 do capítulo 2. Até o final do capítulo 3, Paulo trata do que somos em Cristo; quando chegamos no capítulo 4 é que começamos a ver como devemos agir. Ele dividiu o livro em duas partes: posição e prática. No capítulo 2, portanto, ainda estamos vendo verdades sobre a nossa posição em Cristo. Qual a nossa identidade nesta unidade? De que modo somos “um”? Em que somos “um”? Esta é a mensagem dos versículos 11 a 22.

Ao considerarmos este trecho, veremos a unidade que existe entre os judeus e os gentios no Corpo de Cristo. Esta unidade foi efetuada por aquele "um Espírito" sendo, por isso, denominada "a unidade do Espírito". Mas esta maravilhosa unidade não pode ser apreciada, a menos que se entenda a desunião básica que existia entre judeus e gentios. A beleza dessa unidade está em direto contraste com o fato de que judeus e gentios estavam em pólos absolutamente opostos, situação que existia muito antes de Cristo ter instituído a Igreja e enviado o Seu Espírito promover esta aproximação. Originalmente, no período do Antigo Testamento, os judeus haviam sido escolhidos, de acordo com a vontade de Deus, para serem o seu povo peculiar. Deus tinha necessidade de um veículo para testemunhar ao mundo, e resolveu, na Sua soberania, que este veículo seria uma nação. E a nação escolhida foi Israel.

Este povo, o qual Deus formou a partir de Abraão, foi constituído para ser testemunha. Era um povo distinto, separado e único. Tinha uma identidade toda própria e deveria servir, através desta peculiaridade, de testemunho nacional do único Deus verdadeiro. Todas as nações ao redor de Israel estavam mergulhadas no animismo, que é culto aos animais; no polidemonismo, culto a muitos demônios; ou, no politeísmo, culto a muitos deuses. No meio de um mundo totalmente perdido no paganismo, Israel, estava sendo levantada como testemunha do verdadeiro Deus.

Esta era a chave de sua religião: "o Senhor nosso Deus é o único Senhor" (Dt 6.4). É por isso que esta pequena sentença era escrita e gravada nas suas casas e os sacerdotes deveriam pendurar esta verdade na testa, nos filactérios. Israel deveria constituir poderoso testemunho nacional ao mundo, de que o seu Deus era o único Deus, e não aquela multiplicidade de coisas que eram cultuadas. Israel era a nação-testemunha. Por esta razão, os israelitas, receberam ordem de não se misturarem com os gentios. Deveriam manter-se distante dos pagãos. Deveriam pregar para eles, mas não se misturar com eles. Desta forma, receberam marcas especiais de separação: uma terra particular e costumes totalmente diferentes. Deveriam usar certos tipos de roupa que não podiam empregar certas misturas de tecidos. Deveriam comer certo tipo de comida, preparada de tal maneira que o sangue não permanecesse na carne. A cozinha deveria ter certas características; suas leis eram bem distintas; seus festivais e rituais eram todos diferentes daqueles que existiam nas outras nações.

A razão disto tudo era a manutenção de uma identidade peculiar. Assim, através desta peculiaridade e separação, iriam testemunhar a respeito do verdadeiro Deus para o resto do mundo. Porém, tragicamente, o privilégio especial de Israel tornou-se motivo de orgulho, e, ao invés de usarem este privilégio como um veículo de testemunho, exaltaram-se sobre as outras nações, recusando-se a testemunhar para elas. Isto é perfeitamente ilustrado através da conhecida história de Jonas, que recebeu de Deus a ordem de ir pregar aos Ninivitas, mas não quis obedecer. Ele disse que não iria a Nínive, pegou um barco e fugiu. Mas, ao reconhecer o seu pecado, acabou sendo lançado para fora da embarcação. Deus preparou um grande peixe que o engoliu, vomitando-o na praia mais tarde.

Então Jonas foi a Nínive, pregou uma mensagem poderosa durante algum tempo, e a Bíblia narra que toda a cidade de Nínive arrependeu-se e vestiu-se de pano de saco e cinza. E o que fez Jonas? Pediu a Deus que o matasse, pois não conseguia tolerar a idéia de que os gentios haviam crido em Deus. Foi assim que o coração dos judeus tornou-se endurecido e egoísta. Por causa desse tipo de orgulho, a mentalidade judaica nutria pelos povos, ou gentios, um completo desdém. Não se importavam com eles, pelo contrário, isolavam-se no seu orgulho. Orgulhavam-se de serem guardadores da lei, engrandeciam-se pelo fato de serem circuncidados, de serem a semente de Abraão, de Davi ser o seu grande e poderoso rei, e esse orgulho não permitiu que aceitassem ninguém se intrometendo no seu território. Com o passar dos anos, esse padrão de isolamento em relação aos gentios dominou cada vez mais e mais a mentalidade judaica causando, finalmente, uma completa divisão. A comunicação entre gentios e judeus cessou. No tempo de Jesus Cristo, quando um judeu da parte baixa da Palestina desejava ir à Galiléia, na parte setentrional, dava a volta pelo outro lado do Jordão para que não tivesse de passar por Samaria, uma terra de gentios, pois não queriam misturar-se com eles. Não posso afirmar, no entanto, que a culpa foi só de Israel.

O problema da opressão gentílica foi constante. Nação após nação invadia a terra de Israel para devastar e destruir. Paulo sabia, por experiência pessoal, como era difícil unir um judeu e um gentio. Os judeus costumavam dizer que os gentios foram criados por Deus para serem o combustível do fogo do inferno. Dizia que Deus amava somente a Israel e nenhuma outra nação dentre todas as que havia criado. Imaginem que não era considerado lícito nem mesmo ajudar uma gentia no momento do parto, porque ela estaria trazendo ao mundo um outro gentio. Desta forma podemos perceber quão forte era o sentimento de repulsa que os judeus nutriam pelos gentios. Lembrem-se da mulher samaritana. Ela perguntou a Jesus se Ele não sabia que os judeus não se davam com os samaritanos, isto é, não mantinham qualquer comunicação com eles. A barreira era absoluta. Se um rapaz judeu, ou uma moça judia, quisesse casar-se com um gentio, sua família fazia celebrar um funeral: este tipo de relacionamento com um gentio era considerado equivalente à morte. Até entrar na casa de um gentio tornava um judeu impuro. Portanto, existia entre judeus e gentios uma profunda e arraigada desunião.

Traços desta amargura podem ser percebidos nos primórdios da Igreja. Mesmo após Cristo ter unificado judeus e gentios, na prática ainda havia alguns problemas. A ilustração clássica deste fato encontra-se em Atos 15. Aí está registrado o Concílio de Jerusalém, convocado em face das dificuldades de convivência que judeus e gentios estavam encontrando. O problema tornou-se aparente quando Paulo voltou de sua primeira viagem missionária. Nós lemos, iniciando o capítulo: "Alguns indivíduos que desceram da Judéia, ensinaram aos irmãos: ‘Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos'". Isto é bem interessante; estavam dizendo que a Salvação vem através da cirurgia. O que eles queriam é que os gentios primeiro se tornassem judeus; depois poderiam receber a Cristo. Pensavam que era preciso primeiro tornar-se judeu, para depois ser salvo. Julgavam necessário impor sobre os gentios todo o sistema legal judaico, e então poderiam receber a Cristo. "Tendo havido, da parte de Paulo e Barnabé, contenda e não pequena discussão com eles...".

Paulo declarou claramente sua posição a respeito deste assunto no capítulo 2 de Romanos. Lá esclareceu que nem a circuncisão nem a incircuncisão é, por si só, boa ou má; porém tudo depende da fé. Foi por isso que Paulo se opôs com tanta veemência ao ensino daqueles indivíduos. Finalmente ficou resolvido que Paulo, Barnabé e alguns outros deveriam ir a Jerusalém consultar os apóstolos e presbíteros. "Enviados, pois, e até certo ponto acompanhados pela Igreja, atravessaram as províncias da Fenícia e Samaria e narrando a conversão dos gentios, causaram grande alegria a todos os irmãos. Tendo eles chegado a Jerusalém foram bem recebidos pela Igreja, pelos apóstolos e pelos presbíteros, e relataram tudo o que Deus fizera com eles. Insurgiram-se, entretanto, alguns da seita dos fariseus, que haviam crido, dizendo: É necessário circuncidá-los e determinar-lhes que observem a lei de Moisés."

Observem agora o problema .ter que voltar a todos aqueles gentios e circuncidá-los, gente, das mais variadas idades, e impor-lhes todo o sistema legal de Moisés. Aqueles homens haviam sido salvos, mas ainda não haviam entendido que tinham sido libertados de todo o sistema mosaico. O problema começou a ficar resolvido a partir do v. 6: "Então se reuniram os apóstolos e os presbíteros para examinar a questão. Havendo grande debate, Pedro tomou a palavra e lhes disse: ‘Irmãos, vós sabeis que desde há muito Deus me escolheu de entre vós para que, por meu intermédio, ouvissem os gentios a Palavra do Evangelho e cressem'."

Lembrem-se que Pedro foi o primeiro a pregar para os gentios (fato que se acha registrado em Atos 10, a passagem que fala sobre Cornélio). "Ora, Deus que conhece os corações, lhes deu testemunho, concedendo o Espírito Santo a eles, como também a nós nos concedera." Sabem por que, quando Cornélio recebeu o Espírito Santo, os mesmos milagres que aconteceram no Pentecostes se repetiram? Para que Cornélio nunca duvidasse do fato de que estava recebendo o Espírito Santo exatamente do mesmo modo que aqueles judeus o haviam recebido em Jerusalém. E para que não houvesse qualquer superioridade da parte dos judeus para com os gentios. Por isso, ambos receberam o mesmo dom, da mesma maneira, e através dos apóstolos. Todas as outras vezes que se vê o Espírito Santo descendo, na narrativa do livro de Atos, isto sempre acontece através dos apóstolos, e com a manifestação do mesmo dom, para que todos soubessem que estavam no mesmo nível. Assim, Pedro se levantou e disse que os gentios haviam recebido o mesmo dom que eles haviam recebido, acrescentando: "E não estabeleceu distinção alguma entre nós e eles, purificando-lhes pela fé os corações."

Notem bem: não por guardar a lei ou por uma cirurgia, mas pela fé. "Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais puderam suportar, nem nós?" Em outras palavras, nós não fomos tão bem sucedidos no cumprimento de todo este sistema legal; por que, agora, vocês querem impor todo este ritual sobre eles? "Mas cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus, como também aqueles o foram." Não é através da lei; mas através da graça; Pedro tocou exatamente no coração do problema. Com esta sua palavra, repreendeu aquela atitude errada. "E toda a multidão silenciou, passando a ouvir a Barnabé e a Paulo que contavam quantos sinais de prodígios Deus fizera por meio deles entre os gentios." Depois que terminaram, falou Tiago dizendo (ele era o moderador): "Irmãos, atentai nas minhas palavras: ‘Expôs Simão (Pedro) como Deus primeiro visitou os gentios a fim de constituir dentre eles um povo para o Seu nome.' Continuou: ‘Conferem com isto as palavras dos profetas como está escrito: ‘Cumpridas estas cousas, voltarei e reedificarei o tabernáculo caído de Davi; e, levantando-o de suas ruínas, restaurá-lo-ei. Para que os demais homens busquem o Senhor, e todos os gentios sobre os quais tem sido invocado o meu nome'.". Vejam que ele está dizendo que Deus iria reunir num povo, pessoas de todas as nações, e seguiu afirmando que este povo era conhecido de Deus desde o início dos séculos: "... diz o Senhor que faz estas coisas conhecidas desde séculos. Pelo que julgo eu, não devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se convertem a Deus" — não vamos impor sobre eles o nosso molde — "mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, bem como das relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e do sangue. Por que Moisés tem, em cada cidade, desde tempos antigos, os que o pregam nas sinagogas, onde é lido todos os sábados."

Esta resolução foi simbólica, e o que Tiago estava tentando fazer, a esta altura, era harmonizar os dois lados. "Então pareceu bem aos apóstolos e aos presbíteros como toda a igreja, tendo elegido homens dentre eles, enviá-los, juntamente com Paulo e Barnabé, a Antioquia: foram Judas, chamado Barsabás, e Silas, homens notáveis entre os irmãos...". Estes homens foram enviados com a mensagem escrita; o testemunho verbal de Judas e Silas confirmaria a decisão tomada em Jerusalém (v. 27). Finalmente, nos vs. 28 e 29 estão registradas as coisas de que deveriam abster-se e mais a saudação final. E assim, não lhes foi imposto aquele antigo sistema legal. Estou relatando tudo isso, para mostrar-lhes que o maior e mais complexo problema que a Igreja primitiva enfrentou foi o de reconciliar o legalismo inato do judeu com a liberdade dos gentios, ou seja, destruir a ideia de que o judeu iria continuar dominando o gentio através do seu legalismo. Este concílio deveria ter dado um fim à questão, mas, infelizmente, o problema surgiu novamente mais tarde: em Corinto, no capítulo 14 de Romanos e, extensamente, no livro de Gaiatas. Até o fim do seu ministério Paulo teve que lutar contra este problema.

Agora, voltemos para o nosso texto de Efésios, entendendo um pouco mais sobre a polarização que havia entre judeus e gentios. No capítulo 2 Paulo vai ensinar-nos a respeito da unidade que há entre eles. Em geral, havia uma dificuldade na prática dessa unidade na Igreja primitiva, embora, aparentemente, este problema não ocorresse em Éfeso quando ele escreveu esta carta. Neste caso, é evidente que aquela igreja local estava praticando a unidade que possuía posicionalmente. Nos versículos 1 a 10 deste capítulo, Paulo trata do indivíduo e os relacionamentos do indivíduo. De 11 a 22, ele fala sobre as relações nacionais, mencionando as diferenças entre judeus e gentios. Esse trecho se divide em duas partes -.alienados e unidos. Nos versos 11 e 12, judeus e gentios estão alienados; nos versos 13 a 22, estão unidos.

Consideremos a primeira parte. Procurei dar ênfase ao fato que o judeu era definitivamente alienado do gentio. A luz disto, Paulo, dirigindo-se a gentios, fala no versículo 11: "Portanto, lembrai-vos de que outrora vós, gentios na carne, chamados incircuncisão por aqueles que se intitulam circuncisos, na carne, por mãos humanas... " Este é um verso muito interessante. Paulo está lembrando os destinatários desta carta de sua posição anterior como gentios, quando eram desprezados e zombeteiramente chamados de incircuncisão. F. F. Bruce disse: "Nada melhor, para despertar gratidão, como olhar de volta para o fundo do poço no qual um dia estivemos enterrados". Por esta mesma razão Paulo queria que os gentios focalizassem bem o que haviam sido no passado e como haviam sido desprezados pelos judeus. Ser chamados "incircuncisão" significa ter sido alvo de suas zombarias. Lembro-me de 1 Samuel 17, quando Davi ouviu o que Golias falara e zombou, dizendo: "Quem é este incircunciso filisteu, para afrontar os exércitos do Deus vivo."

Ao contrário, o título "circuncisão" era considerado uma honra. Mas havia arrogância neste conceito. Eles gostavam de usar este nome e orgulhavam-se dele, porque identificava-os como povo escolhido de Deus. Por falar nisto, notem o pequeno acréscimo de Paulo no fim do v. 11, fazendo uma certa restrição àquele orgulho: "aqueles que se intitulam circuncisos, na carne, por mãos humanas... " Percebem o que ele quis dizer? Observem ainda Romanos 2.28-29: "Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão a que é do coração, no espírito." Isto é, vocês são a circuncisão, está certo, mas na carne e feita por mãos. E o que realmente interessa é se o coração está circuncidado, se Deus já operou no seu homem interior. Porém, do seu ponto de vista nacional, sabiam que eram a circuncisão e menosprezavam os gentios incircuncisos.

Portanto, no verso 11, percebe-se de que maneira os judeus tratavam os gentios. Mas, no verso 12, descobre-se como Deus trata o gentio: "...naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo.". Esta é a visão sob o prisma de Deus. Para o judeu, os gentios eram apenas desprezíveis; mas do ponto de vista de Deus havia cinco coisas que eu quero que vocês considerem com atenção: sem Cristo, sem a comunidade, sem alianças, sem esperança e sem Deus.

Em primeiro lugar, estavam sem Cristo. Cristo é a palavra grega correspondente a "Messias". O que ele está dizendo para os gentios é que eles não tinham uma esperança messiânica, não tinham qualquer ligação com o Messias prometido. Vejam que os judeus, mesmo nos dias mais amargos e durante as maiores provações, podiam, pelo menos, esperar a volta do Messias. A história dos judeus progredia na direção do Messias. Mas a história, para os gentios, não levava a parte alguma. Não possuía uma esperança messiânica, não criam num herói que viria e endireitaria as coisas, nem havia qualquer promessa de melhores dias no futuro. De fato, os estóicos, que dominavam a filosofia por volta desta época, haviam chegado à conclusão de que a história era um ciclo que se completava a cada três mil anos. Ao fim de cada ciclo o universo era consumido por fogo e tudo recomeçava. Nada levava a parte alguma. A história dos gentios progredia para o nada; era uma simples rotina que não chegava a justificar a própria vida. O gentio não tinha esperança pois estava sem Cristo, sem Messias.

Em segundo lugar, Paulo declarava que eles estavam separados da comunidade de Israel. Eram alienados, isto é, estrangeiros sem qualquer privilégio de cidadania. Deus havia depositado todas as suas bênçãos sobre a nação de Israel e os gentios eram estrangeiros. E se dependesse de Israel, na realidade, se dependesse de Deus, fora de Israel não haveria bênçãos disponíveis. Deus havia depositado os seus tesouros em Israel. É certo que havia casos isolados de gentios crendo em Deus, mas, na maioria das vezes Deus operava através de Israel. Portanto, sendo alienados da comunidade de Israel, os gentios perdiam todas as bênçãos de Deus.

Em terceiro lugar, estavam sem as alianças. Paulo diz que eram estranhos às alianças da promessa. Isto é, o pacto feito por Deus com Abraão, a aliança que Deus fez com Moisés, o pacto que fez com Davi, e o pacto da Palestina. O gentio era estranho a todas estas coisas. Em quarto lugar, os gentios estavam sem esperança. Não somente sem as alianças, mas sem esperança. Isto era uma coisa trágica. Nacionalmente e individualmente eles não tinham promessas, não tinham segurança. Não ter esperança significa não ter qualquer garantia sobre coisa alguma. Em que poderiam colocar suas esperanças? Não possuíam nada, não tinham um Messias, não tinham as promessas de Deus, não tinham as alianças, não tinham qualquer esperança. Em que podiam confiar? Qual era a sua garantia? Qual a sua esperança? Como podiam saber que um dia a justiça seria feita? Qual o valor de fazer o bem? A esperança se baseia numa promessa divina e eles não tinham promessa, portanto, não tinham esperança.

Nos dias do apóstolo Paulo, os gentios criam que não havia futuro algum para o corpo e que a alma iria para uma espécie de prisão. Quer dizer, iria de uma prisão para outra, pois, durante a vida, o corpo constituía a prisão da alma. Na morte, a alma ia para um lugar muito triste: Hades, o mundo das sombras. Lá as almas mortas se lamentavam de ainda estarem existindo. Um escritor antigo registrou: "Regozijo-me na minha mocidade — aproveite a vida enquanto você é jovem. — por muito tempo debaixo da terra irei jazer desprovido da vida, mudo como uma pedra, e deixarei a luz do sol que tanto amei. Um bom homem sou agora, e então, nada serei." Ele cria que iria simplesmente deixar a existência, sem qualquer esperança futura. "Regozije-se ó minha alma, na sua mocidade; em breve outros homens estarão vivendo, e eu estarei na terra negra, morto. Ninguém se sente feliz por coisa alguma debaixo do brilho do sol." Ele era bem pessimista, e assim os demais gentios. Não tinham qualquer esperança, conheciam apenas o desespero.

Finalmente, estavam sem Deus no mundo. Não eram ateístas; cultuavam toda sorte de objetos. O que Paulo quer dizer é simples: estavam sem o verdadeiro Deus. Esta é a mesma expressão encontrada no quarto capítulo de 1 Tessalonicenses; lá Paulo menciona: "os gentios que não conhecem a Deus". Há uma concorrência semelhante em Gálatas 4.8: "Outrora, porém, não conhecendo a Deus, servíeis a deuses que por natureza não o são..." estavam servindo a deuses que não o eram e não conheciam a Deus. Toda a sua idolatria era ridícula. Eis a fotografia da alienação dos gentios. Não eram apenas alienados de Israel por causa de sua incircuncisão. Eram alienados de Deus, estavam sem Cristo, sem uma comunidade, sem as alianças e sem esperança.

Aí chegamos ao verso 13. Qual é a primeira palavra deste verso? É a palavra "mas". A mesma coisa acontece no versículo 4. De 1 a 3 ele descreve a horrível situação do pecador debaixo da ira de Deus. Mas o versículo 4, a graça de Deus entra no cenário. A mesma coisa ocorre no versículo 13. Deus aparece, Cristo entra em cena, e tudo se transforma, quando esses dois povos, gentios e judeus, são trazidos de dois pólos opostos e unificados num corpo misterioso, a Igreja, através de um milagre divino." Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo." Vocês, gentios, que estavam completa mente longe dos judeus, longe das promessas de Deus, longe das alianças, vocês são aproximados em Jesus Cristo. Quando um homem se torna prosélito, os velhos rabis costumavam dizer que ele era "trazido para perto"; é exatamente esta linguagem que Paulo usa aqui. Aqueles gentios forasteiros e separados, com todos aqueles problemas, estavam sendo trazidos para perto de todas as promessas e alianças de Deus. Em Cristo a barreira foi derrubada e eles foram aproximados. Que pensamento lindo. Quando isto aconteceu, tudo mudou. Observem estes contrastes: antes estavam separados, agora são concidadãos dos santos (v. 19); antes estavam sem esperança, agora têm acesso ao Pai em um espírito (v. 18 ); antes eram estrangeiros, agora são membros da família de Deus (v. 19); antes estavam sem Deus no mundo, agora foram reconciliados em um só corpo com Deus (v. 16); antes estavam sem Cristo, agora estão em Cristo Jesus (v. 13). Tudo fica invertido. Jesus inverteu tudo quando derramou o Seu sangue.

Em 1 Coríntios 1.24 Paulo declara que a cruz de Cristo é que aproxima judeus e gentios. Isto é um milagre. Só quando entendemos os extremos ocupados por judeus e gentios é que podemos entender o tremendo milagre que os aproximou. E o preço da realização da maravilhosa mudança que ocorreu foi o sangue de Jesus Cristo. Foram aproximados, diz o v. 13, pelo sangue de Cristo. E sabem de que maneira? Todas as barreiras do mundo são causadas pelo pecado. O sangue de Cristo lavou todo o pecado e o homem entrou na presença de Deus. O sangue de Cristo aproximou os gentios, e o sangue de Cristo aproximou os judeus. Ambos se encontraram na presença de Deus. E na presença de Deus não existe nada senão unidade, por isso são um em Cristo. Se o gentio está em Cristo e o judeu está em Cristo, tornam-se um, porque há apenas um Cristo.

Lemos no verso 14: "Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e tendo derrubado a parede de separação que estava no meio...". Havia parede gigantesca entre judeus e gentios, mas Cristo derrubou-a completamente pelo Seu sangue: tomou o judeu, tomou o gentio, aproximou-os em uma base comum, e disse-lhes: “Agora vocês são um”. Ele é a nossa paz. Se eu estou em Cristo e você está em Cristo, nós estamos em paz um com o outro. Esta é uma verdade posicional. Na prática, não deveria haver lugar para discórdia. Mas talvez você não entenda uma coisa: como é que uma pessoa pode ser paz? Cristo produz paz, mas como Ele mesmo pode ser paz? Isto significa que esta paz não é um mero documento legal que une duas pessoas. Mas o próprio Jesus tornou-Se a paz e fez com que o judeu e gentio fossem um n'Ele. Está escrito que Ele derrubou a parede de separação que estava no meio. Isso nos lembra que o Templo possuía vários pátios. O primeiro pátio, o exterior, era o local onde os gentios ficavam. Eles poderiam permanecer ali, sem ultrapassar a parede que separava aquele pátio do próximo recinto. O próximo pátio era o pátio das mulheres; depois, vinha o pátio dos israelitas, os homens. Havia, ainda, o pátio dos sacerdotes; então, o lugar santo e, finalmente, o santo dos santos. Os gentios ficavam no pátio exterior. A parede que separava o pátio das mulheres do pátio dos gentios apresentava algumas placas colocadas em lugares estratégicos. Nelas estava o aviso de que se algum gentio ultrapassasse aquela área, estaria correndo perigo de vida. Eles não permitiam que os gentios entrassem. O apóstolo Paulo diz que quando Cristo veio, a primeira coisa que fez, foi uma pequena demolição: derrubou a parede e misturou os dois. Paulo sabia o que isto significava. Fora preso em Jerusalém quando acusado falsamente de introduzir Trófimo, o efésio, no Templo, além do limite permitido (At 21). Então, aquela parede do Templo simbolizava uma profunda separação, que Cristo derrubou na cruz. No verso 15, ele continua o seu pensamento: "Aboliu na sua carne a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse em si mesmo um novo homem, fazendo a paz...". Ele não é a nossa paz apenas, mas Ele fez a paz.

Jesus acabou com o legalismo como princípio religioso. O judeu guardava a lei e glorificava a si mesmo por tê-la guardado. O gentio ora rejeitado porque não guardava a lei. Cristo removeu a lei quando morreu na cruz. Ele pagou a penalidade da lei substituiu-a pela fé. Deus removeu a lei como caminho para Deus e substituiu-a pelo novo princípio do amor. O gentio não precisava mais ficar de fora, ele poderia entrar na plenitude de todas as bênçãos de Deus, onde não haveria mais restrições. A lei era boa, é claro, mas quando Cristo morreu na cruz. Ele pagou a sua penalidade, destituiu o seu poder, cumpriu todas as suas ordenanças, e, deste modo, a lei não poderia mais ser obrigatória a ninguém, nem a gentio, nem a judeu. Ela não constituía mais um caminho para Deus, nem separava mais o homem de Deus. Ora, se não separa os homens de Deus, tampouco separa os homens uns dos outros. Estou grato por Jesus Cristo ter destruído a lei como caminho para Deus. Sem a morte de Jesus nunca teria havido um sacrifício final e estaríamos em sérios problemas. Mas o que a lei não pode fazer, a Bíblia diz que Cristo fez. A lei nos separava de Deus, e por causa disto nos separava uns dos outros. A única base de reconciliação entre os homens sempre foi e é Deus; a única maneira de aproximar judeus e gentios é trazê-los juntamente à presença de Deus. E se um homem não pode entrar na presença de Deus pela lei, outro modo precisa ser determinado; foi isto que a morte de Cristo fez. Ele aboliu a inimizade na Sua carne. Que inimizade? Que separação era esta? Era a lei dos mandamentos na forma de ordenanças. Cristo aboliu essa lei quando morreu. E sabem o que Ele criou? De dois opostos Ele criou um novo homem. Nós somos um só homem, judeus e gentios, no corpo de Cristo. Esta idéia de um novo homem é simplesmente maravilhosa.

Quero enfatizar o fato que Cristo aboliu a lei. Sei que não é muito fácil entender isso, portanto vou tentar ilustrá-lo com uma história que conheço há muito tempo. Na França, na Segunda Guerra Mundial, havia um cemitério católico. Alguns rapazes haviam perdido um de seus amigos e desejavam enterrá-lo. Já era noite e os canhões haviam silenciado. Levaram, portanto, o corpo à porta do cemitério, onde um sacerdote estava parado observando. "Nós queremos que ele tenha um enterro decente", disseram os rapazes. O padre perguntou: "Ele é católico?". A resposta foi negativa, ao que o padre acrescentou: "Sinto muito, se não é católico, os regulamentos não permitem que seja enterrado aqui". Então, frustrados e tristes, levaram o corpo e decidiram que , já que não podiam enterrá-lo dentro do cemitério, iriam enterrá-lo bem perto, do lado de fora da cerca. Encontraram um pequeno lugar, a uns dois metros da cerca de madeira. Cavaram a sepultura e enterraram-no ali. Ao acordarem no dia seguinte, levantaram-se e decidiram prestar suas últimas homenagens ao saudoso amigo no seu túmulo. Porém, não puderam achar o local onde o haviam enterrado; tinha desaparecido, e não podiam imaginar como acontecera. Procuraram por toda parte, e após uma hora de buscas infrutíferas, resolveram perguntar ao sacerdote se sabia algo a respeito. Assim, tiveram que contar-lhe toda a história. E o sacerdote respondeu: "Bem, na primeira metade da noite eu fiquei acordado sentindo remorsos pela minha atitude intransigente com vocês; depois, passei o resto da noite mudando a cerca de lugar." Foi exatamente isto que Cristo fez. Ele nos incluiu dentro das promessas e das alianças de Deus numa ação que foi além da lei, pela graça. Jesus simplesmente tomou a cerca e mudou-a de lugar. Jesus Cristo removeu a barreira, abriu o canal agora judeus e gentios encontraram-se juntos em Cristo. E quero acrescentar o seguinte, que sendo um novo homem em Cristo, qualquer crente gentio que não ama o seu irmão judeu sem restrições, está violando o que Cristo realizou com a Sua morte. Não há nada que me deixa mais pesaroso que encontrar um crente gentio que não tem amor por um irmão em Cristo que é judeu. Cristo é a nossa paz, maravilha das maravilhas. Ele criou um novo homem. Sabem o que isto significa? Somos uma coisa nova. Não há nada que jamais tenha existido como nós. Nada. Nós somos uma nova espécie de criação. Somos um novo homem, uma existência de nova qualidade. Nada jamais existiu como nós no passado. O crente é peculiar em si mesmo e o conceito de corpo, o corpo de Cristo, é algo completamente distinto. Nós temos uma chama distinta, um lugar diferente no plano de Deus, uma identidade peculiar. Não houve nada na história que se assemelhe a nós.

E quero dizer ainda o seguinte, somos a maior criação de Deus. Nada pode nos tocar. Qual a razão de ter pego os dois extremos e feito deles um novo homem? Esta nova espécie de homem, de nova qualidade? Um homem celestial? Uma nova humanidade? Há duas palavras traduzidas por “novo”, no grego original: neós e kainós. Neós significa “novo no tempo”, algo que apareceu agora. Kainós significa “novo na qualidade”. A palavra que aparece aqui não é neós, mas kainós. Nós somos uma existência de nova qualidade. Não houve jamais uma criatura como "você no corpo de Cristo". Nunca. Jamais. Você é uma nova espécie de ser e constitui um mistério. A Igreja é um mistério. Sim, somos um novo e misterioso homem e isso me entusiasma muito. Lemos no v. 16: "... e reconciliasse ambos em um só corpo de Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade". Quando Cristo morreu, a barreira era o legalismo, porque este separava o homem de Deus, e separava o homem do homem, porque a única maneira de dois homens se reconciliarem é através de Deus. Portanto, enquanto houvesse a separação entre o homem e Deus, haveria uma barreira entre o homem e seu semelhante.

Sim, a cruz reconciliou com Deus e quando ambos chegamos à presença de Deus, conseqüentemente tornamo-nos amigos. Que pensamento glorioso... Acabou-se a rebelião! Sabem porque há tanta luta neste mundo? Tantos problemas entre indivíduos, entre famílias, entre grupos sociais e políticos, entre grandes e pequenos? Sabem por que? Porque os dois lados nunca se encontraram no Calvário. Esta é a única base de reconciliação o lugar onde fazemos as pazes um com o outro. Esta unidade no Corpo de Cristo, produz crentes em cujas vidas o amor supera todas as diferenças, e que se amam mutuamente porque amam a Deus. Homens que constituem uma unidade porque estão juntos na presença de Deus. Os versículos 17 e 18 continuam falando sobre Cristo: "E, vindo, evangelizou paz..." Não é incrível? Está escrito que Ele é a nossa paz, que Ele fez a paz, e agora, que evangelizou paz, ou seja, pregou a paz. Ele é o príncipe da paz: "... evangelizou paz a vós outros que estáveis longe, e paz também aos que estavam perto...". Longe, os gentios; perto, isto é, perto das alianças e das promessas, os judeus "...porque por Ele, ambos temos acesso ao Pai em um espírito". Observem isto: a trindade completa está presente aqui realizando este acontecimento. Cristo prega, o. Espírito nos leva à presença do Pai e o Pai nos recebe. Deus, Filho, supre o caminho por Seu sangue; Deus, o Espírito, nos conduz neste caminho; e Deus, o Pai, nos recebe. Não é maravilhoso? Foi isto que o sangue de Cristo realizou.

No versículo 19 há uma espécie de resumo de tudo: "Assim já não sois estrangeiros e peregrinos" — ele está falando dos gentios — "mas concidadãos dos santos...”. Que santos? Todos os santos, inclusive Abraão, Davi, Elias e Eliseu. Sim. Como podem os gentios serem concidadãos de todos eles? Todos se reúnem na mesma base, na presença de Deus, através do sangue de Jesus Cristo. Não há qualquer hierarquia aqui. As pessoas do Velho Testamento não estão na Igreja, mas são santos e, sendo trazidos à presença de Deus, tornam-se nossos concidadãos. E de onde somos cristãos? Em Filipenses 3.20 aprendemos que a nossa cidadania não é deste mundo, mas do céu. Ficamos aqui por algum tempo até que o Senhor cumpra a Sua obra em nós e então partimos para a nossa verdadeira pátria. E o versículo acrescenta: "... e sois da família de Deus...". A palavra empregada significa que fazemos parte, somos membros da família. De estrangeiros alienados, passamos a ser membros da família de Deus.

Quando chamamos outro crente "irmão" ou "irmã", não poderíamos estar usando uma palavra mais adequada, pois esta é uma palavra que indica igualdade. Numa família, existe um laço amoroso e íntimo e é esta a idéia envolvida aqui. Gosto muito de Hebreus 3.6, onde está escrito: "Cristo, porém, como Filho, sobre a sua casa; a qual casa somos nós...". Significa que Cristo não tem vergonha de nos chamar irmãos. Assim o gentio estrangeiro passa a fazer parte da família. Não é maravilhoso o fato que não somos uma organização, mas uma família? Fomos naturalizados, recebemos uma "dádiva divina, e fomos adotados sobrenaturalmente na família de Deus, em relacionamento pleno. Judeus e gentios, ambos com a mesma fé preciosa. Aí Paulo introduz uma nova metáfora: não somos apenas concidadãos, nem apenas da mesma família, mas também somos um edifício, um templo dedicado ao Senhor. Vamos ler a partir do versículo 20: "...edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo Ele mesmo. Cristo Jesus, a pedra angular...".

Quando Deus planejou construir a Igreja, Cristo foi a pedra angular, e entendo que esta é a pedra pela qual toda construção é aprumada. Os apóstolos e os profetas foram o fundamento. Num outro sermão mencionei que não há apóstolos e profetas hoje. Não se faz a fundação no vigésimo andar, ela fica embaixo de tudo. Eles tiveram o seu lugar, foram a fundação, como Cristo e a pedra angular. E a Igreja começou a ser construída. De que material foi construída? No verso 21 está a resposta: " ...no qual todo edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor..."; observem as palavras do versículo 22: "...no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito." Nós somos o edifício, vocês e eu. Gosto muito do que Pedro diz (1Pedro 2.5): " ...também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual...". Você já ouviu falar em pedra viva? Normalmente, pedra caracteriza um corpo inerte, sem vida, mas Pedro diz que somos pedras vivas. Cristo foi a pedra angular, os apóstolos e profetas as fundações, e Ele mesmo está aumentando este edifício com pedras vivas; assim, o edifício cresce. A idéia de vida encontrada no corpo, continua ligada ao edifício: somos pedras que vivem.

Voltando ao texto de Efésios, notem que Paulo afirma que este edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor. Se somos um templo, alguém vive em nós. Lemos no verso 22: "...no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito". Quem habita a Igreja é o Espírito; ele não somente habita em nós como indivíduos. (1 Coríntios 3.16 e 6.19: nosso corpo é o templo do Espírito Santo) , mas também habita em todos os crentes coletivamente. Todos juntos somos uma habitação. Onde é que Deus habita? Costuma-se dizer que este prédio é a casa do Senhor. Não, não é a Casa de Deus. Nós somos a Casa de Deus, e podemos mudar a Casa de Deus agora para o meio da rua se quisermos. Primeiro, você é pessoalmente habitação do Espírito. E todos nós juntos, ao término do culto, levamos a Casa de Deus conosco, porque somos a Casa de Deus. Ele habita em nós; sim, somos habitação de Deus no Espírito.

Observemos novamente o quadro inteiro. Somos novo homem, isto é constituímos uma nova espécie de humanidade. Somos um corpo; somos cidadãos da mesma pátria celestial; membros da mesma família divina; e somos um edifício vivo. Estamos em paz com Deus, e portanto em paz uns com os outros. Somos uma comunidade onde não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher; todos somos um em Cristo. E nossa unidade não vem de uma organização, mas de um organismo. Nossa unidade não procede de ritual, mas de relacionamento. Nossa unidade não resulta de uma liturgia, mas do amor. Nossa unidade é Cristo. Todas estas verdades constituem a nossa posição em Cristo. Portanto, vivamos à altura da nossa vocação.

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