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16:55

A Obra do Espírito Santo

Postado por Harone Maestri Mattos

São comparativamente poucos os tratados especiais sobre a Pessoa do Espírito Santo; e ainda mais raro é o tratamento sistemático de Suas Obras. Em dogmática, é verdade, este assunto é introduzido, desenvolvido e explicado, mas o tratamento especial é excepcional.

Assim como há muito escrito sobre Cristo, há pouco escrito sobre o Espírito Santo. A obra de John Owen neste assunto é conhecida muito amplamente e ainda não ultrapassada. Na verdade, John Owen escreveu três obras sobre o Espírito Santo; publicadas em 1674, 1682 e 1693. Ele era naturalmente um prolífico teólogo e escritor. Nascido em 1616, morreu com a boa e avançada idade de setenta e cinco anos, em 1691. Desde 1642, quando publicou seu primeiro livro, ele não parou de escrever até a sua morte.

Em 1826 Richard Baynes re-publicou os trabalhos de John Owen, D.D., editados por Thomas Russel, A.M., com as memórias e as anotações da sua vida (vinte e um volumes). Esta edição ainda está no mercado, e oferece um tesouro de teologia sólida e completa.

Além dos trabalhos de Owen, eu menciono os seguintes:

• David Rungius, “Proof of the Eternity and Eternal Godhead of the Holy Spirit”, Wittenberg, 1599.
• Seb. Nieman, “On the Holy Spirit”, Jena, 1655.
• Joannes Ernest Gerhard, “On the Person of the Holy Spirit”, Jena, 1660.
• Theod. Hackspann, “Dissertation on the Holy Spirit”, Jena, 1655.
• J. G. Dorsche, “On the Person of the Holy Spirit”, Köningsberg, 1690.
• Fr. Deutsch, “On the Personality of the Holy Spirit”, Leipsic, 1711.
• Gottfr. Olearius (John F. Burgius), “On the Adoration and Worship of the Holy Spirit”, Jena, 1727.
• J. F. Buddeuss, “On the Godhead of the Holy Spirit”, Jena, 1727.
• J. C. Pfeiffer, “On the Godhead of the Holy Spirit”, Jena, 1740.
• G. F. Gude, “On the Martyrs as Witnesses for the Godhead or the Holy Spirit”, Leipsic, 1741.
• J. C. Danhauer, “On the Procession of the Holy Spirit from the Father and the Son”, Strasburg, 1663. J. Senstius, Rostock, 1718, and J. A. Butstett, Wolfenbüttel, 1749. John Schmid, John Meisner, P. Havercorn, G. Wegner, and C. M. Pfaff.

A Obra do Espírito Santo foi discutida em separado pelos seguintes escritores: Anton (“The Holy Spirit Indispensable”); Carsov (“On the Holy Spirit in Conviction”); Wensdorf (“On the Holy Spirit as a Teacher”); Boerner (“The Anointing of the Holy Spirit”); Neuman (“The Anointing which Teaches All Things”); Fries (“The Office of the Holy Spirit in General”); Weiss (“The Holy Spirit Bringing into Remembrance”); Foertsch (“On the Holy Spirit's Leading of the Children of God”); Hoepfner (“On the Intercession of the Holy Spirit”); Beltheim, Arnold, Gunther, Wendler, e Dummerick (“On the Groaning of the Holy Spirit”); Meen (“On the Adoration of the Holy Spirit”), Henning e Crusius (“On the Earnest of the Holy Spirit”).

Os seguintes teólogos Holandeses escreveram sobre o mesmo assunto: Gysbrecht Voetius no seu “Select-Disput” (I., página 466); Sam. Maresius (“Theological Treatise on the Personality and Godhead of the Holy Spirit”) na sua “Sylloge-Disput” (I., página 364); Jac. Fruytier (“The Ancient Doctrine Concerning God the Holy Spirit, True, Proven, and Divine”); exposição de João 15:26, 27; Camp. Vitringa, Jr., (“Duæ Disputationes Academicæ de Natione Spiritus Sancti”) na sua Opuscula.

Durante o presente século, obras sobre este mesmo assunto podem dificilmente serem comparadas com os estudos de John Owen. Notamos as seguintes: Herder (“Vom Paraclet”); Xachei (“Von der Lästerung wider den Heiligen Geist” - Nürnberg, 1875); E. Guers, (“Le Saint-Esprit, Étude doctrinale et pratique sur Sa Personne et Son Oeuvre” - Toulouse, 1865), A. J. Gordon (“Dispensation of the Spirit”).

Esta biografia escassa mostra que tratamento sistemático deficiente é dispensado à Pessoa do Espírito Santo. Estudos sobre a Obra do Espírito Santo são ainda mais escassos. É verdade que há várias dissertações sobre partes separadas da Obra do Espírito Santo, mas ela nunca foi tratada em sua unidade orgânica. Nem mesmo por Guers, que reconhece que seu pequeno livro não merece lugar entre as obras dogmáticas.

Na verdade, Owen ainda não foi ultrapassado, e é, portanto, muito procurado por bons teólogos, sejam clérigos ou leigos. E, todavia, a obra prima de Owen não parece fazer um estudo mais aproximado deste tema excedente. Embora como um campeão imbatível contra os Arminianos e Semi-Arminianos da última metade do século dezessete, sua armadura é muito leve para enfrentar os erros doutrinários da atualidade. Por esta razão, o autor compromete-se a oferecer ao público cristão pensante uma exposição da segunda parte deste tema grandioso, numa forma adaptada aos clamores da época e aos erros do presente. Ele não tratou sobre a primeira parte, a Pessoa do Espírito Santo. Este não é um assunto controverso. A Natureza Eterna do Espírito Santo é de fato confessada ou negada, mas os princípios dos quais a confissão ou a negação são resultado necessário são tão divergentes que torna-se impossível um debate entre o que a confessa e o que a nega. Se jamais adentrassem numa arena eles cruzariam suas lanças no ponto referente aos princípios básicos, e debateriam sobre a Origem da Verdade. E somente após o consenso sobre este tema eles poderiam vir a discutir um assunto especial como o do Espírito Santo. Mas até então, discussão como esta, com eles que negam a Revelação, seria quase que um sacrilégio.

Mas é diferente com a Obra do Espírito Santo. Pois, embora cristãos professos reconheçam esta Obra, e tudo o que ela abrange, e tudo o que dela procede, todavia os vários grupos nos quais eles se dividem representam-na de maneiras muito divergentes. Que diferenças neste ponto, entre Calvinistas e Éticos, Reformados, Kohlbruggianos e Perfeccionistas! As representações dos práticos Sobrenaturalistas, Místicos, e Antinomianos podem dificilmente serem reconhecidas.

Parece-me confuso e impraticável atacar estas opiniões divergentes sobre pontos subordinados. As diferenças nunca deveriam ser discutidas, exceto sistematicamente. Aquele que não tenha primeiro observado, conhecido por completo o campo no qual o Espírito Santo opera, não pode medir com sucesso qualquer parte dele, para a conquista de um irmão seu e para a glória de Deus.

Daí que, deixando as polêmicas de lado quase que por completo, eu me esforcei para apresentar a Obra do Espírito Santo nas suas relações orgânicas, de modo que o leitor possa ser capaz de pesquisar o território inteiro. E ao pesquisar, quem não se surpreende com as dimensões sempre crescentes da Obra do Espírito Santo em todas as coisas que dizem respeito a Deus e ao homem?

Mesmo que honremos o Pai e creiamos no Filho, quão pouco nós vivemos no Espírito Santo! Algumas vezes até nos parece que para a nossa santificação somente é que o Espírito Santo foi acrescentado acidentalmente à grande obra redentora.

Esta é o motivo pelo qual nossos pensamentos são tão pouco ocupados com o Espírito Santo; porque no ministério da Palavra tão pouca honra Lhe é conferida; porque o povo de Deus, quando dobrado em súplicas perante o Trono de Graça, faz dEle tão pouco o objeto da sua adoração. Você sente, involuntariamente, que da nossa piedade, que já é pouca o bastante, Ele recebe uma porção por demais reduzida.

E visto que este é o resultado de uma imperdoável falta de conhecimento e de apreciação da Sua Obra gloriosa em toda a criação, um entusiasmo santo compeliu-me, no poder de Deus, a oferecer aos meus camaradas campeões pela fé que uma vez foi entregue pelos pais, alguma assistência nesse aspecto.

Que o Espírito Santo, cuja Obra divina eu tenho expressado em palavras humanas com língua gaguejante, possa coroar esta empreitada com bênçãos tais que você sinta a Sua Presença invisível mais próxima, e que Ele possa trazer ao seu coração inquieto a mais abundante consolação.

Amsterdam, 10 de Abril de 1888.


Postscript para os leitores Americanos, eu acrescento mais uma observação.

Este trabalho contém polêmicas ocasionais contra o Metodismo, as quais, para os muitos ministros e membros das igrejas chamadas “Metodistas” podem parecer injustas e desnecessárias. Seja, portanto, claramente declarado que a minha controvérsia com o Metodismo não é nunca com estas igrejas em particular. O Metodismo com o que eu contendo, prevaleceu até recentemente em quase que todas as igrejas Protestantes como um fruto prejudicial da “Mudança” no início deste século. Metodismo como aqui inferido é idêntico ao que Mr. Heath, no “The Contemporary Review” (Maio, 1898), criticou como totalmente inadequado para colocar o Protestantismo novamente na cabeça do movimento espiritual.

O Metodismo nasceu do declínio espiritual da Igreja Episcopal da Inglaterra e do País de Gales. Ele surgiu como a reação do subjetivo individual e espiritual contra o poder destrutivo do objetivo na comunidade, como manifesto na Igreja da Inglaterra. Como tal reação era preciosa e indubitavelmente uma dádiva de Deus, no seu desdobramento teria continuado tão salutar como se tivesse retido sua característica de uma reação predominante.

Deveria (o Metodismo) ter considerado a Igreja como uma comunidade, como um poder objetivo, e neste território objetivo deveria ter vindicado o significado da vida espiritual individual e da confissão subjetiva.

Mas falhou ao fazê-lo. Da vindicação dos direitos subjetivos do indivíduo, passou logo ao antagonismo contra os direitos objetivos da comunidade. Isto resultou dogmaticamente na controvérsia sobre a obra objetiva de Deus, em outras palavras, no Seu decreto e na Sua eleição, e em termos eclesiásticos, em antagonismo contra a obra objetiva do ofício, através da confissão. Deu supremacia ao elemento subjetivo no livre-arbítrio do homem e ao elemento individual na decisão “não congregacional” de conflitos na Igreja. Então, não reteve nenhum outro objetivo senão a conversão de pecadores individuais; e por esta obra abandonou o orgânico; e somente reteve o método mecânico.

Como tal, (o Metodismo) celebrou no assim chamado “Reveil” [1] seu triunfo mais glorioso, e penetrou em praticamente todas igrejas Protestantes, e mesmo na Igreja Episcopal, sob o nome de Evangelicalismo ou “Igrejismo Baixo”. Como uma segunda reação contra o segundo declínio das igrejas Protestantes daquela época, este triunfo trouxe, sem dúvida, uma grande bênção.

Mas quando surgiu a necessidade de reduzir esta nova vida espiritual a um princípio definido, sobre o qual construir uma vida cristã Protestante e em oposição global às filosofias não-cristãs e à vida essencialmente mundial e panteísta, e professar estas posições e mantê-las; falhou então miseravelmente. Faltou-lhe princípios conscientes e bem definidos; com o seu individualismo e subjetividade ele não poderia alcançar as questões sociais, e, devido à sua completa falta de unidade orgânica, não poderia formular uma vida independente e global; sim, permaneceu em todos lugares, como um obstáculo a tais formações.

Por esta razão, é absolutamente necessário ensinar claramente as igrejas Protestantes a enxergarem esta sombra escura do Metodismo, enquanto que ao mesmo tempo elas deveriam continuar a estudar o seu precioso significado como reação espiritual.

Daí a minha contenda com o Metodismo e o meu persistente apontar para a necessidade imperativa de vindicar sobre, contra e lado a lado da subjetividade puramente mecânica, os direitos do social orgânico em toda a vida humana; e de satisfazer a necessidade do poder de objetividade na presença de declarações extravagantes de subjetividade. Isto pressiona tudo o mais desde que na teologia Metodista da América a tendência moderna está avançando.

A Obra do Espírito Santo não pode ser deslocada pela atividade do espírito humano.

Kuyper.

Amsterdam, 12 de Abril de 1899

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