Ordo Salutis

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14:21

Reforma já!

Postado por Harone Maestri Mattos

Entrevista Virtual* - D.M.Lloyd-Jones

BC: Por que deveríamos nos interessar pela reforma protestante de 400 anos atrás?
Bem, se devo ser inteiramente sincero, devo confessar que a minha principal razão é esta: por causa do estado de coisas hoje. Eu sou primordialmente um pregador, não um preletor, não um historiador; gosto muito da história, mas não sou um antiquário, como disse. Não; estou interessado nisto porque, como pregador, estou preocupado com o presente estado de coisas, que vai se aproximando cada vez mais do estado de coisas que prevalecia antes da Reforma Protestante. Vocês sabem do estado dos costumes morais deste país*, e da Grã-Bretanha em geral, antes da Reforma: vício, imoralidade, pecado estavam sem freios. A situação está rapidamente se tornando a mesma de novo. Há um terrível declínio moral e social. Estamos sendo rodeados por problemas que eram óbvios antes de irromper a Reforma. O estado moral do país, estes urgentes problemas sociais, a delinqüência juvenil, o alcoolismo, roubos e assaltos, vícios e crimes estão todos vindo de volta como eram antes da Reforma Protestante. Mas não se trata apenas de problemas morais e sociais.

"De fato opino que, talvez, a maior de todas as lições da Reforma Protestante seja que o meio de recuperação é sempre ir atrás, de volta ao modelo primitivo, à origem, às normas e ao padrão que só se encontram no Novo Testamento."

BC: Quais são os outros problemas?
Veja só, qual o estado da Igreja? Que dizer dos que são membros da igreja? Quantos ao menos a freqüentam? Estamos retomando à situação da pré-Reforma. Que dizer da autoridade da Igreja? Que dizer das condições da doutrina na Igreja? Antes da Reforma havia confusão. Haverá alguma coisa mais característica da Igreja hoje do que confusão doutrinária, indiferença doutrinária - falta de preocupação e falta de interesse? E então, talvez, o mais alarmante de todos esses problemas, o aumento do poder da influência e dos róis da igreja de Roma, e as tendêncIas romanizantes que estão se introduzindo e que estão sendo exaltadas na Igreja protestante! Não há dúvida sobre isso. É uma questão de fato e de observação. Há uma óbvia tendência de retorno à situação anterior à Reforma; as cerimônias e os rituais estão aumentando, e a Palavra de Deus está sendo pregada cada vez menos, os sermões estão ficando cada vez mais curtos. Há uma indiferença para com a doutrina verdadeira, uma perda de autoridade, e uma conseqüente decadência, até na questão de número. Pergunto ao povo cristão, se estou exagerando quando opino que no presente estamos realmente engajados numa grande luta pela própria vida da Igreja Cristã, pela essência da fé cristã. Como vejo a situação, esta não é nem um pouco menos alarmante que isso. Estamos lutando por uma herança, pelas próprias coisas gue foram conquistadas por aquele tremendo movimento de há quatrocentos anos. Essa, para mim, é a razao mais urgente. Não podemos dar-nos o luxo de ser meros antiquários; devemos preocupar-nos com isso por causa do estado de coisas em que nos achamos.

BC: E de que forma a reforma protestante pode nos ajudar a enfrentar toda essa ameaça?
Como vejo a questão, não estou seguro de nada, exceto de que a maior lição que a Reforma Protestante tem para ensinar-nos é justamente esta, que o segredo do sucesso na esfera da Igreja e das coisas do Espírito é olhar para trás. O que aconteceu, na essência, há quatrocentos anos foi que aqueles homens foram para trás, até o primeiro século, retornaram ao Novo Testamento, retornaram à Bíblia. Subitamente foram despertados para esta mensagem e simplesmente retornaram a ela. Não há nada mais interessante, quando se lêem as histórias de Lutero e de Calvino, do que notar a maneira pela qual eles foram descobrindo que estiveram redescobrindo o que Agostinho já tinha descoberto e que eles tinham esquecido.

BC: Quer dizer que a igreja contemporânea também deveria olhar para trás e redescobrir coisas que se perderam?
De fato opino que, talvez, a maior de todas as lições da Reforma Protestante seja que o meio de recuperação é sempre ir atrás, de volta ao modelo primitivo, à origem, às normas e ao padrão que só se encontram no Novo Testamento. Foi isso exatamente o que aconteceu há quatrocentos anos. Aqueles homens retrocederam ao princípio, e tentaram estabelecer uma Igreja em conformidade com o modelo do Novo Testamento. E assim, deixemo-nos guiar por eles, e procuremos armazenar certas lições deles.

BC: Que lições?
Bem, sejam quais forem as suas idéias a respeito, você tem que admitir, foi um dos fenômenos históricos mais extraordinários que já aconteceram. Não é exagero dizer que a Reforma Protestante mudou e alterou todo o curso da história, não somente da história da Igreja, mas também da história secular. Não há dúvida sobre isso, e é concedido pelos historiadores que a Reforma lançou o alicerce de todo o conceito democrático de governo. Isso é um fato da história. No presente, todas as nações do mundo estão observando os Estados Unidos da América. Como foi que os Estados Unidos da América vieram a existir? Nunca teriam vindo à existência, não fosse a Reforma Protestante. Os pais puritanos que atravessaram o Atlântico no Mayflower eram produtos da Reforma, e foi o desejo, não só de liberdade religiosa, porém também de liberdade democrática, que os levou a enfrentar os perigos da travessia do Atlântico naquela época e a estabelecer uma nova vida, um novo estado e um novo sistema do governo no Novo Mundo. Não se pode explicar a história dos Estados Unidos da América, senão em termos da Reforma Protestante. A Reforma deu sangue novo a todo o conceito democrático na esfera da política, e as conseqüências, a julgar pelo ponto de vista moral e social, simplesmente frustaram toda tentativa de descrição. A Escócia, por exemplo, de uma condição de país de gente dissoluta, ébria e iletrada, tornou-se famosa no mundo inteiro por seu povo sóbrio, reto, capaz e inteligente. E foi a Reforma Protestante que levou a isso.

BC: Mas os problemas de criminalidade, delinqüência, imoralidade, não devem ser tratados pelos governos, ONGs, sociedade organizada? O que a igreja evangélica tem a ver com isso?
Hoje todos estão cientes do problema moral e estão tentando lidar com ele segundo várias linhas: atos (leis) do Parlamento, reforma carcerária, tratamento psiquiátrico nas prisões, e vários outros expedientes que são defendidos. Mas não parecem ter muito sucesso, parecem? Por que não? Por esta razão: não se pode ter moralidade sem vida piedosa. A tragédia dos últimos cem anos deve-se à falácia de imaginar que se pode jogar fora a doutrina cristã, todavia manter a ética cristã. Essa tem sido a idéia dominante. Mas não pode ser levada a efeito. Há um versículo na Epístola aos Romanos, capítulo 1, versículo 18, que deveria endireitar-nos nisto uma vez para sempre: "Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens". Você percebe a ordem - a impiedade primeiro, a injustiça em segundo lugar. Se você não tem um povo piedoso, nunca terá um povo justo. Não se pode ter justiça sem piedade. E, quanto a isso, a Reforma Protestante é a prova mais extraordinária que o mundo já conheceu. Uma vez que você tenha piedade, a justiça e a moralidade se seguirão. Hoje estamos tentando ter moralidade, justiça e uma boa concepção ética sem a piedade, e os fatos estão provando, diante dos nossos olhos que simplesmente não se pode fazer isso. Leia a história da Reforma. Ali você verá que o único meio de exaltar a nação é pôr primeiro a piedade, e a justiça se seguirá.

"Não se pode ter justiça sem piedade. E, quanto a isso, a Reforma Protestante é a prova mais extraordinária que o mundo já conheceu. Uma vez que você tenha piedade, a justiça e a moralidade se seguirão."

BC: Mas a reforma não é uma reforma da igreja? Como ela pode atingir todo um país com seus problemas extremamente complexos?
Como eu disse, a Reforma não foi um movimento puramente religioso. Foi um movimento geral e foi testemunhado, não somente na Escócia, como também na Inglaterra, na França, na Holanda, na Suiça, na Alemanha, e em diversos outros países do continente europeu. Foi um grande movimento do Espírito de Deus.

BC: O que mais lhe chama a atenção em todo esse movimento do Espírito?
Bem, certamente a primeira coisa que atrai a nossa atenção são os homens, os homens que Deus usou. Observem-nos - Patrick Hamilton, George Wishart, John Knox, Andrew Melville, John Welsh e muitos outros. Aí estão homens dignos do nome! Homens heróicos, grandes, homens de granito! Eu sou um adorador de heróis! Pensem o que quiserem de mim, eu gosto de ver um grande homem e de ler sobre ele. Numa época de pigmeus como esta, é bom ler sobre grandes homens! Nós somos todos muito parecidos e do mesmo tamanho, mas ali havia grandes gigantes na terra, homens capazes, homens de intelecto gigantesco, homens de alto nível nos domínios da mente, da lógica e da razão. Depois olhem seu zelo, olhem sua coragem! Francamente, eu sou admirador de um homem que pode fazer uma rainha tremer! São estas as coisas que nos impressionam logo acerca desses homens. Mas depois eu suponho que a coisa mais notável de todas era o fato da ardente convicção que havia dentro deles; foi isso que fez deles os homens que foram.

BC: Quais eram essas convicções?
me referi a algumas delas; deixe-me acrescentar algumas outras. Em que criam esses homens? Que é que eles ensinavam? Quais eram as suas características? Eis a primeira, obviamente: a sua crença na autoridade deste Livro (A Bíblia). A Igreja anterior à Reforma estava moribunda e sonolenta debaixo da filosófica escolástica que ostentava grande destreza, com perspicácia intelectual e crítica. Entretanto tudo estava nas nuvens e era tratado com vagos conceitos e generalidades, enquanto o povo era mantido em completa ignorância. Os homens que ministravam o ensino e faziam as preleções docentes discorriam sobre conceitos filosóficos, comparando uma idéia com outra, e se entregando a refinamentos e minúcias. Mas, em contraste, o fato grandioso que se alteia quanto aos reformadores é que eles eram homens que retornavam à Bíblia. Nada importa, senão isto, diziam eles. Esta, diziam eles, é a Palavra de Deus no Velho Testamento e no Novo, não é teoria, suposição ou especulação, é o Deus vivo falando aos homens: Ele entregou a Sua Palavra aos profetas, eles a escreveram; Ele a entregou aos apóstolos, eles a registraram; e aí está ela para nós. Aí temos algo que pertence a uma categoria que lhe é própria, a Palavra viva de Deus falando dEle aos homens, falando dos homens, falando do único modo pelo qual eles podem unir-se e conviver. Eles se apoiavam na autoridade da Bíblia, não na filosofia escolástica.

BC: Quer dizer que o retorno à Palavra é um dos principais ensinamentos que podemos tirar para nós em todo o movimento?
É aí que se vê a importância de olhar para o passado, para a Reforma. Não seria esta a maior necessidade atual, retornar à Palavra de Deus? Ela tem ou não tem autoridade? Estaria eu em condições de colocar-me acima deste Livro, olhar para baixo, para ele, e dizer: isso não é verdadeiro, isto ou aquilo tem que sair? A minha mente, o meu conhecimento do século vinte seria o juiz final e o elemento decisivo e derradeiro quanto à necessidade destes ensinos? Faz tempo, cem anos, em que essa idéia começou a insinuar-se, que a Igreja está indo abaixo. Mas os reformadores baseavam tudo neste Livro, tendo-o como a Palavra de Deus ao homem e que eles não deviam julgar, porém pregar. E eu e vocês temos que retornar a isso. Não poderá haver pureza, não poderá haver autoridade na Igreja, enquanto ela não retomar a esta autoridade básica. É ocioso falar dela como sendo a Palavra de Deus num sentido que continua deixando que eu e vocês decidamos que certas coisas nela não são verdadeiras! O Livro permanece uno, o Senhor Jesus Cristo cria no Velho Testamento. Depois da Sua ressurreição, Ele conduziu os Seus discípulos através dos livros de Moisés, dos Salmos e dos profetas. Ele diz: Eu estou ali, deixem que Eu Me mostre para vocês ali. Leiam-nos; porque vocês não os compreenderam?
Por que vocês não creram em tudo o que os profetas escreveram? Esse foi o problema deles, esse foi sempre o problema da Igreja nos períodos de declínio, e nós devemos retornar à posição dos reformadores protestantes e reconhecer que não temos nenhuma autoridade fora da autoridade desta Palavra de Deus.

BC: Que outras convicções eles tinham?
Neste Livro eles encontraram também a dinâmica doutrina da soberania de Deus, que os ensinou a não abordarem os seus problemas de maneira subjetiva, como eu e você somos propensos a fazer. A preocupação deles não era: como posso conseguir um pouco de ajuda, como posso obter cura física, como posso receber orientação, como posso ter paz e felicidade, como posso conseguir um amigo que me ajude na minha solidão? Não; eles se viam diante deste Deus soberano e todo-poderoso, e a questão por excelência era: como posso ser justo aos olhos de Deus? Eles se inclinavam perante Ele. Eram homens piedosos; eram homens tementes a Deus. Deus estava no centro dos seus pensamentos e era quem dirigia as suas atividades e as suas vidas. A soberania de Deus! Eles não falavam muito acerca do livre-arbítrio, segundo as leituras que deles tenho feito, mas sabiam que Deus é sobre todos e que deve ser adorado e temido.

"A preocupação deles não era: como posso conseguir um pouco de ajuda, como posso obter cura física, como posso receber orientação, como posso ter paz e felicidade, como posso conseguir um amigo que me ajude na minha solidão? Não; eles se viam diante deste Deus soberano e todo-poderoso, e a questão por excelência era: como posso ser justo aos olhos de Deus?"

BC: Que mais?
Depois havia a grande e central doutrina do Senhor Jesus Cristo e a Sua obra perfeita e consumada. Não se lamentavam por Ele quando O contemplavam na cruz, viam-nO levando os pecados deles, viam a Deus lançando sobre Ele a iniqüidade de nós todos, viam-nO como um substituto, viam a Deus pondo sobre Ele a nossa culpa e punindo-O por nossa culpa. A expiação vicária! Eles a pregavam; ela era tudo para eles. A obra expiatória de Cristo, completa e consumada. Eles se gloriavam nela! E isso, por sua vez, naturalmente, levou à grande, central e axial doutrina da justificação pela fé somente.

BC: Mas essa não é uma doutrina em que todos crêem nos dias de hoje na igreja evangélica?
Ora, posso estar enganado, mas como vejo a situação contemporânea, talvez a maior batalha de todas seja, no momento, a batalha pela justificação pela fé somente. As "obras" estão de volta! (...) Vocês vêem, não importa no que se crê. De acordo com esse ensino, é a vida que faz de um homem um cristão. Se você tem um bom modo de viver, se você tem uma vida de sacrifício, se você tenta elevar a raça, se você procura imitar a Cristo, você é cristão; embora negue a deidade de Cristo, embora negue a Sua obra expiatória, embora negue o miraculoso e o sobrenatural, a ressurreição e muitas outras coisas, não obstante, você é um grande cristão e um grande santo!

BC: E os reformadores pensavam muito diferente disso.
Meu amigo, John Knox e outros homens arriscaram a vida, dia após dia, tão-somente para negar tal ensino e para asseverar que o homem é justificado unicamente pela fé, sem obras, que o homem é salvo, não pelo que ele faz, mas pela graça de Deus, que Deus justifica o ímpio, que Deus reconcilia conSigo os pecadores. Tudo vem de Deus, e nada do homem, e não se deve permitir que as obras se intrometam, em ponto algum, de modo algum ou de forma alguma. A batalha em prol da justificação pela fé somente sai a campo outra vez! Espero que redescubramos a centralidade absoluta da doutrina da justificação pela fé somente.

BC: Há mais alguma coisa em que eles se destacavam e que nós precisamos redescobrir?
Aqueles reformadores também eram homens que criam na posse da segurança e certeza da salvação. Agora estou sendo um tanto polêmico, não estou? Você crê na segurança da salvação como os reformadores protestantes criam? Conheço gente que paga grande tributo à memória de John Knox e de outros, e que nega a possibilidade de segurança e a considera quase uma impertinência. Sei que a Confissão de Fé, de Westminster, tem o cuidado de dizer que uma pessoa pode ser salva sem ter certeza da salvação, que a fé salvadora e a fé que assegura a salvação não são a mesma coisa, e me sinto feliz em concordar com a Confissão de Westminster. Deixem-me dizer isto, porém: os reformadores protestantes eram tão fervorosamente contra a igreja católica romana, a qual ensina que o homem nunca pode ter certeza, que eles não traçavam aquela distinção, e estariam igualmente contra o movimento moderno, que gosta de alegar que é reformado, mas que nega a possibilidade da certeza. Aqueles reformadores protestantes diziam que uma pessoa não estava verdadeiramente salva, se não tivesse certeza! Sem acompanhá-los o caminho todo devemos notar que, quando a Igreja é poderosa, vigorosa e possuidora de autoridade, os seus pregadores e ministros sempre são homens que falam baseados numa plena segurança da fé e sabem em quem eles têm crido. É por essa razão que os mártires podiam sorrir diante dos reis, rainhas, regentes e potentados locais, e ir alegremente para a fogueira; sabiam que da fogueira despertariam no céu e na glória, e veriam o Senhor face a face! Eles se regozijavam na segurança da salvação!

"Aqueles reformadores protestantes diziam que uma pessoa não estava verdadeiramente salva, se não tivesse certeza!"

BC: Mais alguma convicção que os caracterizava?
Bem, para completar a minha pequena lista, devo acrescentar mais algumas das suas convicções. Eles foram homens que criam no sacerdócio universal dos crentes. Defendiam a simplicidade do culto. Fora com os ídolos, fora com os paramentos, fora com rituais e cerimônias. Um culto religioso simples! E não menos importante, uma Igreja pura. As três marcas da Igreja ensinadas por eles são: a igreja local é um lugar onde se prega o evangelho puro, onde as ordenanças são administradas e onde se exerce a disciplina. Uma Igreja pura! Nenhum lugar para os meias-casacas; nenhum lugar para os vacilantes, nenhum lugar para os que, por suas vidas, mostram que amam o mundo, os seus caminhos e o seu pecado. Não! Uma Igreja pura, porque a Igreja é o corpo de Cristo! Essas eram as convicções daqueles homens, essas eram as doutrinas que eles sustentavam.

BC: O senhor falou muito sobre as doutrinas em que eles criam. Mas, e a sua vida espiritual?
Ah, uma coisa que eu quero frisar sobre eles é esta: o seu poder na oração. Não devemos pensar naqueles reformadores somente em termos de doutrina, embora devamos começar com isso. Esta outra coisa era igualmente notável e extraordinária acerca deles, eram homens de oração. Acaso Maria, Rainha dos Escoceses, não temia as orações de John Knox mais do que os soldados ingleses? Claro que sim! Por quê? Porque ele era um homem poderoso na oração. Você já leu sobre a vida de oração de John Welsh, genro de John Knox? Ali estava um homem que passava noites em oração; sua mulher geralmente acordava de noite e o via de joelhos, quase congelado. Que é que ele estava fazendo? Orando pelo povo da cidade a quem servia, pedindo poder, pedindo autoridade. Aqueles homens, cada um deles, eram homens grandemente marcados pela vida de oração; passavam horas em oração, sabendo que neles e por eles não poderiam fazer nada, embora as suas doutrinas fossem certas e ortodoxas. Gosto de ouvir aquela história doutro homem desses, Robert Bruce. Lemos que quando ele estava orando com alguns ministros, sentiu-os sem vida e entorpecidos. Bradou a Deus que o Espírito Santo descesse sobre eles, mas parecia que nada estava acontecendo. Então, quando ele começou a dar murros na mesa, eles tomaram consciência de que Deus estava vindo entre eles, e depois diziam de Bruce que ele era um homem que fazia o Espírito Santo descer entre eles com pancadas! Não seria desse tipo de homem que precisamos hoje? Onde está o poder, onde a influência, onde a autoridade? Aqueles reformadores eram apenas homens como nós, todavia sabiam dessas coisas. Eram homens de oração, homens que viviam na presença de Deus e que sabiam que não podiam fazer nada sem Ele.

BC: O que mais?
Isso me leva ao derradeiro ponto: a sua pregação. Os reformadores reintroduziram a pregação e puseram a pregação no centro, em vez das cerimônias e das ordenanças. Sim, mas lembramos que há pregação e pregação. Simplesmente falar durante vinte minutos não é necessariamente pregar. Embora você tenha tomado um texto e o tenha dividido inteligentemente, isso não é necessariamente pregação. Sim, há pregação e pregação! Qual será o teste de pregação? Eu lhes direi: é o poder! "O nosso evangelho não foi a vós", diz o apóstolo aos Tessalonicenses, na primeira Epístola, capítulo 1, versículo 5, "somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza". Quem tinha a certeza? O pregador! Ele sabia que algo estava acontecendo, ele sabia que Deus o estava usando, ele sabia que era o veículo e canal da graça divina e eterna. "Muita certeza"! E esse era o tipo de pregação que se recebia dos reformadores protestantes. Era pregação profética, e não apenas pregação sacerdotal. O que temos hoje é o que chamaríamos oração sacerdotal. Muito boa, muito serena, muito adornada, expressões belamente trabalhadas cuidadosamente preparadas. Isso não é pregação profética! Não; o que se necessita é autoridade! Vocês pensam que John Knox poderia fazer Maria, Rainha dos Escoceses, tremer com um pequeno e polido ensaio? Aqueles homens não escreviam os seus sermões com um olho na sua publicaçao em livros; pregavam aos ouvintes que estavam diante deles, e pregavam ansiosos e desejosos de fazer algo, de efetuar algo, de transformar pessoas. Era com autoridade. Era proclamação, era declaraçao. Porventura causa surpresa que a Igreja seja como é hoje? Nós não acreditamos mais na pregação, acreditamos?

BC: Hoje a igreja tem substituído a pregação por grupos de discussão e outras técnicas de transmissão da verdade. O que os reformadores pensariam disso?
O seu conceito de pregação certamente não era a nossa idéia moderna de manter uma discussão amigável. No lugar da pregação o que temos é discussão. Deixemos que os jovens digam o que pensam, conquistemo-los deixando-os falar; e vamos ter uma conversa ou discussão amigável, vamos mostrar-Ihes que, afinal de contas, somos bons sujeitos e de bom trato, que não somos intratáveis; e conquistaremos a confiança deles; eles não devem pensar que somos diferentes deles! Se você está na televisão, começa mostrando e acendendo logo o seu cachimbo; você mostra que é igual ao povo, que é um deles! John Knox era como um do povo? John Knox era um bom companheiro, um sujeito amigo e camarada com quem se poderia ter uma discussão? Graças a Deus, não era! A Escócia nao seria o que foi nestes quatrocentos anos, se John Knox fosse esse tipo de homem. Vocês podem imaginar John Knox recebendo sugestões e treinamento sobre como conduzir-se e comportar-se diante da câmara de televisão, para ser elegante, polido, amigável e cavalheiro? Graças a Deus os profetas foram feitos de material mais forte! Um Amós, um Jeremias um João Batista no deserto, com a sua camisa de pêlo de camelo - um sujeito esquisito, um lunático, diziam, mas iam ouvi-Io porque ele era uma curiosidade, e quando o ouviam, eram convencidos do pecado! Homem assim era John Knox, com o fogo de Deus nos ossos e nas entranhas! Ele pregava como pregavam todos eles, com fogo e poder, sermões alarmantes, sermoes que levavam à convicção de pecado, sermões que produziam humildade, sermões que convertiam, e a face da Escócia foi transformada!

"E Deus sabe o que faz. Vejam os dons que Ele deu a John Knox na sua condição de homem natural; vejam a mente que Ele deu a Calvino, e o treinamento que Ele lhe propiciou como advogado, a fim de prepará-lo para a sua grande obra; vejam Martinho Lutero, que vulcão de homem!"

BC: Bem, mas qual foi o segredo deles para chegarem a todas essas convicções e ênfases?
Não eram os homens, como estive procurando mostrar, grandes como eles foram. Era Deus! Deus, em Sua soberania, levantando os Seus homens. E Deus sabe o que faz. Vejam os dons que Ele deu a John Knox na sua condição de homem natural; vejam a mente que Ele deu a Calvino, e o treinamento que Ele lhe propiciou como advogado, a fim de prepará-lo para a sua grande obra; vejam Martinho Lutero, que vulcão de homem! Deus preparando os Seus homens; nos diferentes países e nações. Naturalmente mesmo antes de os produzir, Ele estivera preparando o caminho para eles. Jamais nos esqueçamos de John Wycliff e de John Huss; jamais nos esqueçamos dos Waldenses e de todos os mártires daquela terrível Idade Média! Deus estava preparando o caminho. Ele enviou os Seus homens no momento certo, e os poderosos eventos se seguiram.

BC: E qual a conclusão disso tudo para nós hoje?
A conclusão disso tudo é que a justiça e unicamente a justiça, exalta a nação, e não há justiça sem uma piedade, que a preceda. Os tempos são brutais; o mundo está em condições desesperadas; há um pavoroso esfacelamento moral diante dos nossos olhos. O casamento está sucumbindo, a vida familiar está desaparecendo, as crianças não conhecem lar e pais amorosos. É uma tragédia! Será que não se pode fazer nada? Não há esperança? Para mim, a principal mensagem da Reforma Protestante de há quatrocentos anos indica-nos a única esperança. As coisas estavam mal quando Deus chamou John Knox e o enviou como uma chama abrasadora, e os outros com ele. A nossa situação não é desesperada, pois Deus permanece, e com Deus nada será impossível! As condições não poderiam ser piores do que eram imediatamente antes da Reforma; todavia, apesar disso, veio a mudança. Por quê? Porque Deus estava lá, e Deus a enviou. Assim, a única pergunta que necessitamos fazer é a velha pergunta de Eliseu face a face com o seu problema: "Onde está o Senhor, Deus de Elias?" (2 Reis 2: 14). E eu quero fazer essa pergunta: onde está o Deus de John Knox? Parar em John Knox não basta; a questão é: onde está o Deus de John Knox, Aquele que nos pode dar o poder, a autoridade, a força, a coragem, e tudo o que necessitamos. Onde está Ele? Como podemos achá-lO? Sugiro-lhes que, de novo, se veja a resposta na Epístola aos Hebreus, desta vez no capítulo 4, versículos 14 a 16. Como podemos achar este Deus, aqui está a resposta: "Retenhamos firmemente a nossa confissão". Não significa aí, naturalmente, a Confissão de Westminster, embora na realidade ela o seja! Retenham firmemente a velha Confissão Escocesa. Vocês nunca encontrarão o Deus de John Knox fora disso. "Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus tenhamos firmemente a nossa confissão". Que confissão? A confissão acerca de "Jesus, Filho de Deus", o nosso grande sumo sacerdote; a Confissão Escocesa, a Confissão de Westminster, a fé daqueles pais. Devemos tê-la porque, sem ela, quem se atreverá a ir à presença de Deus? Como está expresso ali, em Hebreus 4:16: "Cheguemos pois com confiança ao trono da graça". Que é esse "pois"? O conhecimento que temos, de que temos este grande sumo sacerdote que penetrou os céus, Jesus o Filho de Deus, e de que Ele pode "compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado". Onde está o Deus de Elias? Como podemos encontrá-lO? Como podemos receber o poder de que necessitamos? Devemos retornar à confissão, retornar à fé, retornar à Palavra, crer em suas verdades e, à luz dela, temos que ir com ousadia, confiança, certeza, ao trono da graça; para acharmos graça que nos ajude na hora da necessidade (cf. Authorized Version). Estamos vivendo numa pavorosa hora de necessidade, pecado e maldade desenfreados; o mundo inteiro está tremendo e se abalando. Seria o fim sobre nós? Os tempos são alarmantes - "hora da necessidade". A única coisa necessária é encontrar este Deus, e ali, assentado à Sua mão direita, Aquele que esteve neste mundo e sabe tudo sobre ele, viu face a face o seu opróbrio, o seu pecado, a sua vileza, a sua podridão; amigo de publicanos e pecadores, Homem que experimentou o ódio e a animosidade dos fariseus, escribas e saduceus, dos doutores da lei e de Pôncio Pilatos. O mundo todo estava contra Ele e, todavia, Ele passou vitoriosamente por aquilo tudo; Ele está ali, e é o nosso representante e o nosso sumo sacerdote. Creiam nEle, retenham firmemente a confissão. Cheguemos em Seu nome e com ousadia ao trono da graça, e tão certamente como o façamos, obteremos a misericórdia de que necessitamos para a nossa pecaminosidade e infidelidade, e receberemos a graça que nos ajudará na hora da necessidade, em nossos dias e em nossa geração. O Deus de John Knox ainda está aí, e continua o mesmo e, graças a Deus, Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e para sempre. Oxalá possamos conhecer o Deus de John Knox!

extraido do site: Bom Caminho

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